9 de set. de 2009

Entrevista - Max Gehringer

Um dos palestrantes mais requisitados do país, Max Gehringer é formado em administração de empresas e construiu uma bem sucedida carreira como executivo. Foi presidente da Pepsi da Pullman/Santista Alimentos, diretor comercial e industrial da Elma Chips e diretor de sistemas da Frito Lay, nos Estados Unidos. Em 1999, ficou entre os 30 executivos mais cobiçados do mercado, de acordo com uma pesquisa realizada pelo jornal Gazeta Mercantil. Atualmente, assina colunas em seis revistas: Exame, Você S/A, Revista da Web, Superinteressante e Viagem & Turismo. Publicou ainda os livros "Relações Desumanas no Trabalho" e "Comédia Corporativa". Na entrevista exclusiva cedida ao CEO Salvador, na noite de lançamento do empreendimento, Gehringer fala sobre mudanças profissionais, novas tecnologias e desenvolvimento brasileiro. Boa leitura.


CEO Salvador- A sua palestra de hoje trata das mudanças. Como esse tema será abordado?
Max Gehringer - Vou considerar que esta é uma noite de festa, de alegria. Então, na medida do possível, vou fazer com que o pessoal se divirta, lembrando algumas histórias de empresas e produtos que foram influenciados por mudanças e fazer o gancho com o empreendimento. O vídeo que será passado mostra exatamente o que eu falo, que não é o mais forte nem o mais inteligente que ganha, é o que mais se adapta e sabe mudar. Então eu acho que tem uma ligação muito boa do que eu vou falar com o que vem depois, que é o mais importante da noite, e é por isso que estamos aqui hoje.

CEO - Existe algum segredo para uma vida com tantas mudanças profissionais como a sua?
Max - O principal não é quantas vezes a gente muda. Muita gente muda pelos motivos errados, como por exemplo: “Eu sou empregado e vou abrir uma empresa porque eu não gosto do meu chefe ou porque os colegas são invejosos”. Quer dizer, não são bons motivos para fazer uma mudança. Nós temos que, durante algum tempo, ir pensando, avaliando, experimentando, ruminando, até ter certeza de que a situação para a qual se vai tem, no mínimo, uma boa possibilidade ou ser igual à situação em que eu estou. Então eu fiz muitas mudanças na vida e nenhuma delas foi um salto no escuro. Todas elas foram muito bem pensadas.


CEO - Deve haver um planejamento ou às vezes ele pode atrapalhar?

Max - Não, eu nunca fiz planejamento, escrever no papel o que eu vou ser daqui a 3, 4, 5 anos. Mas quando alguém falou que havia uma oportunidade de, por exemplo, eu deixar de ser executivo para ser escritor, eu fiquei um ano e meio pensando nisso, sem colocar nada no papel. Eu conversava com pessoas, fazia perguntas de como funcionava, quem eu tinha que conhecer, quem era que mandava, quem eram as maiores editoras do Brasil e de que maneira eu podia chegar numa revista conhecida nacionalmente e ter um espaço para escrever. Na hora que eu tomei a decisão de fazer, já era bem amadurecida. A minha recomendação é que não se tome uma decisão por um mau motivo, mas por um bom motivo. Você vai ficar melhor do que está.

CEO - Como aconteceu esta passagem da sua vida, de uma empresa para o trabalho de escritor?

Max - Eu fiquei sozinho. Não tenho mais o batalhão de gente que trabalhava comigo, então sinto falta disso.


CEO - Mas você considera a sua vida hoje mais tranquila?

Max -Sim, a minha vida é muito mais tranquila, sossegada e feliz, sem dúvida!

CEO - Quando você tem uma empresa, a sua equipe te mantém atualizada através de reuniões, encontros, congressos. Quando você trabalha sozinho, como se mantém atualizado para continuar no ritmo do mercado e passar estas informações nos livros, colunas e palestras?

Max - Tudo na vida é uma questão de sorte. Eu dei a sorte de fazer esta transição quando a tecnologia me permitiu fazer de casa. Se eu tivesse feito cinco anos antes, não daria, porque não tínhamos internet no Brasil, em 1999. Tudo o que a gente consegue fazer hoje de transmissão de dados era muito incipiente e, para a minha felicidade, eu gravo pra rádio e para televisão, escrevo e tenho tudo em casa. Hoje, as fontes de pesquisa que temos são maravilhosas se comparadas às de 20 anos atrás. Antes, qualquer coisa que você queria saber tinha que pegar um telefone fixo e ligar para alguém, ir a uma redação de jornal ou a uma biblioteca pública. Hoje você entra no Google e descobre qualquer coisa em qualquer lugar no mundo. Só precisa saber falar inglês, porque a maioria das boas informações estão em inglês. Mas ficou muito mais fácil.


CEO - A internet também foi uma grande transformadora. Qual a sua opinião sobre esse boom?

Max - Eu acho maravilhoso. O que às vezes eu levava três dias para conseguir, eu consigo hoje em três minutos. Se você sabe o que procurar, acha. Eu estou achando músicas no youtube que eu ouvia há 30, 40 anos e não tinha nem ideia de quem cantava. Então basta ter boa memória. Alguém em algum lugar do mundo tinha o clipe e colocou lá. Na parte de informação é a mesma coisa. A gente pode ouvir as melhores rádios do mundo, ler os melhores artigos do mundo, ter acesso às melhores revistas de negócios. Essa é uma possibilidade de se atualizar que eu não tive quando era executivo.

CEO - Há ainda a questão da rapidez. O Twitter, por exemplo, traz informações curtas e rápidas.
Max - O Twitter é uma bela febre. As pessoas deixaram de ser fontes de informação para serem a própria informação. É lindo isso. Os twitters dos técnicos de futebol já dão o furo da notícia. Não sei quanto tempo vai durar isso. Quando a tecnologia avança nessa rapidez, há coisas que acabam muito depressa, o que é bom. Depois do Twitter vai vir outra coisa. Os primeiros que entenderem o que vai ser e aproveitarem vão ser mais bem sucedidos. Esta é a mensagem de adaptação, você não pode achar que uma coisa vai durar para sempre.

CEO - Como você vê o Nordeste em relação a novos negócios?

Max - Eu acho que o sul do Brasil se desenvolveu violentamente no final do século XIX e início do século XX, porque uma enorme quantidade de imigrantes chegou de repente, com uma imensa vontade de trabalhar. Isso aconteceu no Paraná, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, principalmente. Foram três estados que se desenvolveram bastante. O Norte e o Nordeste do Brasil, principalmente esta parte que pega a Bahia, Pernambuco, passando por Belém e chega até Manaus, era a parte desenvolvida do país, e a gente esquece disso. Então os imigrantes eram mandados para o sul, que era atrasado. Mas foi um pessoal que chegou de repente, então deu essa reviravolta. Eu não vejo porque o Brasil não possa ser, independentemente do tamanho, um país com uma unidade maior de desenvolvimento.
O que a gente vê é o desenvolvimento das capitais. Eu venho a Salvador há 30 anos e, nos primeiros 15 anos, não vi acontecer nada na cidade: os prédios eram os mesmos, a entrada do aeroporto, que é a mais bonita do Brasil, era a mesma. Mas nos últimos dez anos, é impressionante como Salvador vem crescendo, está sempre cheia de prédios em construção. Eu não sei como está o interior do estado, porque só conheço a capital. Eu acho que um estado, para se desenvolver, precisa de uma capital e um interior fortes. O Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo têm isso. E os lugares que não têm ficam em uma situação complicada, porque eles não podem depender de uma capital. Para quem mora na capital não tem importância, mas para quem mora no interior é uma questão muito séria. Se o interior não se desenvolve, quem mora lá vem para a capital já que não se consegue gerar emprego no interior. Eu acho que isso é o que deveria ser feito, investir para desenvolver, com as iniciativas pública e privada juntas. Eu não sei quanto tempo vai levar para o Brasil chegar ao nível que hoje estão os países do hemisfério norte, mas ele vai chegar, não tenho dúvida. O potencial é maravilhoso.
Max fala sobre mudanças no lançamento do CEO Salvador

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